TEXTOS


Tradução livre de um trecho do livro de Stephan Hausner - "Aunque me cueste la vida" - constelaciones sistémicas em casos de enfermidades y sintomas crónicos:

[...] Na resta dúvida que cada um recebeu algo de seus pais e também que cada um deixou de receber algo deles. Assim, tudo depende com o que cada um se vincula. Se consegue olhar para o que recebeu, sente-se obsequiado e, em consequência, também tem algo a dar. Se, por outro lado, permanece na exigência e se vincula com o que não pode receber, talvez sinta-se enganado pela vida e pelos pais: a leva mal, falta-lhe algo, e, como consequência, frequentemente não tem disposição ou não está em condições de dar. Com essa atitude, muitas pessoas tornam-se depressivas.
Estar em sintonia com os pais, significa tomar o que se recebeu e renunciar ao que não se pôde receber. Esta é uma verdadeira renúncia, já que ninguém pode tomar o lugar dos pais. O pai não pode substituir a mãe e a mãe não pode substituir o pai, os pais adotivos ou os tutores não podem tomar o lugar dos pais biológicos. Nem entre os casais se pode cobrir essas necessidades e, muitas crianças sofrem sob a projeção inconsciente de seus pais quando devem representá-los.[...]
[...]Segundo minhas observações através do trabalho de constelações com enfermos, muitos pacientes, inconscientemente, estão ligados em sua enfermidade ou sintomatologia por um desejo infantil e a retém por uma profunda necessidade de pertencer. Vivem e sofrem com a esperança de receber mais proximidade e afeto de seus pais, mais do que os pais lhes podem dar.
Portanto, parte do processo de cura seria renunciar a esse desejo de proximidade dos pais e, através da sintonia com eles e da própria tomada de responsabilidades, poder crescer até a autonomia de um adulto.
A esperança do paciente de que se cumpram esses desejos infantis poderia ser considerada inconscientemente como uma ganância que a enfermidade proporciona em sentido mais amplo[...]
_______________________________________________________
A paz - Fenômeno: futebol – 8/01/2011, de Hermann Furthmeier em Ayuda para la vida diaria, enero 2011

A Alemanha está jogando contra a Inglaterra nas oitavas de final da Copa do Mundo de 2010.
Estou sentado em frente à TV, o placar está 2 a 1 a favor da “nossa” seleção.  A tensão está crescendo, as mãos suam, o batimento do coração é audível, o pulso se acelera e a respiração está contida.
É quando me chega o pensamento: o que está acontecendo aqui? O que está acontecendo comigo? Se estou sentando em frente a uma televisão e, na longínqua África do Sul, 22 homens correm atrás de uma boa e um juiz e dois bandeirinhas controlam o evento?
Trata-se de tudo o que tenho, minha estirpe, meu grupo, ao qual pertenço, meu país, Alemanha. Trata-se da sobrevivencia do meu clã. As reações físicas indicam luta. O  outro grupo, o outro país tem que ser combatido, tem que ser vencido. Só um “sobrevive”, só um pode seguir.
De onde vêm as reações corporais? Surge no corpo a memória das confrontações entre tribos de épocas remotas, onde logicamente, sempre se tratava de vida ou morte.
O enfoque de Bert Hellinger me ajuda. Ele descobriu que uma pessoa está ligada a seu grupo através da boa consciência e é assim que a defende. Assim se adquire o direito a pertencer ao grupo e, também, ganha-se mais honra.
Comigo, o corpo reage indubitavelmente pelo grupo da Alemanha e não sinto tristeza nem dor profunda se a Inglaterra é eliminada. Na esfera da boa consciência, encontro-me unido a meu clã, os outros, neste caso a Inglaterra, deve-se vencê-los “futebolisticamente” e aniquilá-los.
Em meu entender, muitos homens experimentam velhos padrões de luta aos quais estão profundamente arraigados. O corpo ainda os conhece, mesmo que o intelecto creia já haver-se despojado deles. Aquele que não sente este desejo de aniquilamento, sofre uma agressão oculta e não nota que seu estado pacífico é apenas superficial.
Como saio agora dessa tensão e ansiedade, a menos que queira manter-me a todo custo com essa sensação e lesionar meu coração? Somente com outra consciência, com a consciencia de ser infiel a todo ese processo e a meu país. Antigamente, isso estava ligado à exclusão do clã, à perda do pertencimento – que equivalia à pena de morte.
E logo chega uma compreensão: me imagino como um fanático torcedor inglês que se encontra em frente à televisão, cativo, apaixonado e com boa consciência por seu país. Como serão suas sensações e a de todos os outros fanáticos do mundo? Talvez com uma ou outra diferença de caráter, mas nenhum melhor ou pior na conexão com seu time em campo.
Agora começo a observar os homens dos dois times, como lutam, como se apaixonam, como entregam tudo, olho a todos da mesma maneira. O motivo os une.
Quem será o ganhador ou perdedor, já não tem tanta importancia. Se estabelece uma distância. A mim não acontece mais nada diante da televisão porque, agora, estou indiferente. Estou superando minhas limitações prévias. As sensações físicas diminuem, as mãos estão secas, os batimentos cardíacos normalizados, chega o relaxamento. Não necessito lutar contra ninguém, nem aniquilá-lo, tampouco fugir.
Faz muito tempo que vale o antigo, repetido tantas vezes: as estirpes, clãs, povos, religiões, países que se enfrentam pelos motivos mais diversos. Foram especialmente os homens que, por todos os meios, procuraram a vitória de seu grupo para assegurar, assim, sua sobrevivência.  
É um velho jogo, no futebol se encontra mais refinado e civilizado, mas trata-se de ataque e defesa, velhos rituais de luta pela sobrevivência e do desejo de aniquilamento.
Muitos homens o amam e algumas mulheres também.
_________________________________________________________


Do livro de Siegfried Essen, "El arte de amarse, um ejercicio espiritual sistémico", encontro alguns trecho que quero repassar aos leitores do blog.
A tradução e a escolha dos trechos são livres. Boa leitura!


[...]O que fazemos ao externalizar o que, neste livro, resumimos chamando de incorporação ou constelação? Colocamos para fora realidades internas pelas quais, muitas vezes, nos sentimos avassalados sendo que, desta forma, nos distanciamos delas. Assim, passo à passo, podem transformar-se em menos ameaçadoras, em mais tratáveis, mais humanas e também mais interessantes e dignas de serem amadas. A constelação externalizada é uma forma de reenquadre (reframing), que significa dar uma nova moldura a uma coisa ou situação, observar ou vivenciar de uma nova perspectiva. Virginia Satir era uma mestra nisso e não apenas a partir das palavras, mas também do não verbal. Desenvolveu o trabalho das esculturas e da construção familiar que Bert Hellinger mais tarde usou transformando no trabalho das constelações.
Significa que projetamos realidades internas para fora a fim de domesticá-las, para nos familiarizarmos com elas. E isso não é paradoxal? Aquilo que está dentro de cada um de nós não é o que de mais próximo temos? É possível conseguir familiaridade através de distância e diferenciação? Virginia Satir disse: "A confiança é uma sensação, não é possível fabricá-la. Mas a abertura se pode produzir. Através da abertura nasce a confiança". Através da externalização e personalização abrimos conteúdos internos, emaranhados, obscuros e angustiantes, os trazemos à luz e, desta forma, pode surgir familiaridade e confiança. Foi dado, então, um primeiro passo em direção a aceitação e ao amor a si mesmo.[...]

_________________________________________________________________



Pergunta dos alunos no grupo de estudos: “O que Bert Hellinger diria da pandemia que vivemos?” Eis uma das possíveis respostas , encontrada na introdução do livro “O Amor do Espírito na Hellinger Sciencia” - Hellinger, Bert, Ed. Atman, 2009.

A dimensão espiritual

[...]O que é essa compreensão espiritual e quais as suas dimensões? É parte de uma observação e suas consequências: tudo que existe não se movimenta por si mesmo, mas é movimentado por algo externo.

Tudo que vive, mesmo quando se movimenta como se estivesse se movimentando por conta própria, tem um movimento que não pode partir dele mesmo. Portanto, todo movimento, incluindo o movimento de tudo aquilo que vive, resulta de um movimento que vem de fora, e isso não se aplica apenas ao início do movimento mas, continuamente, pelo tempo todo que dura essa vida.

Todo movimento, principalmente todo movimento de algo vivo, é consciente, pressupõe uma consciência naquela força que tudo movimenta. Em outras palavras: todo movimento é um movimento pensado. Ele começa porque é pensado por esta força e entra em movimento da maneira como é pensado.

O que, então, encontra-se no início de cada movimento? Um pensar que pensa tudo da maneira como é.

O que resulta disso? Para este pensar não existe nada que ele não queira da maneira como é e justamente da maneira como se movimenta. No final, todo movimento é um movimento desse espírito, assim sendo, nada termina para esse espírito. Tudo que foi, é: o espírito ainda pensa da mesma maneira como se pensa no que passou, no que acontece e como pensa, ao mesmo tempo, em tudo que ainda está por vir.

Porque pensa naquilo que está porvir, ao mesmo tempo em que pensa no que se passou, o que se passou se refere totalmente àquilo que ainda está por vir. Aquilo que já passou movimenta-se em direção àquilo que está por vir e lá é concluído.

Porém, aquilo que ainda está por vir também se torna algo que passou e se movimenta no passado como algo que se movimenta em direção a algo que está por vir. Para nós é inconcebível que este pensar que tudo movimenta termine. Da mesma forma como não pode existir nada que não seja pensado por ele, nada também pode existir após ele, pois, quem ou o quê ainda poderia pensar depois dele?

Diante desse pensamento, muitas suposições e ideias, até então importantes para nós, deixam de existir. Por exemplo, a pressuposição da existência de um livre arbítrio, a ideia da responsabilidade pessoal e muitos julgamentos de valor e diferenciações que sustentam a nossa cultura deixam de existir.

Eu me refiro aqui, em primeiro lugar, à diferenciação entre bom e mau, certo e errado, escolhido e rejeitado, entre em cima e embaixo, alto e baixo, melhor e pior e finalmente entre vida e morte.

No entanto, nós continuamos a fazer essas distinções e também as vivenciamos como reais. Mas, elas não são igualmente pensadas e desejadas por esse espírito, assim como são?

Temos que considerar aqui que o que passou e o que ainda está por vir não são a mesma coisa. O que passou está a caminho daquilo que está por vir. Consequentemente, nós experimentamos um antes e um depois, um mais e um menos.

O que é este menos? O que é este mais? Trata-se de menos consciência e mais consciência. Nós nos encontramos num movimento de menos consciente em direção à mais consciente. Nós nos encontramos em um movimento de menos consciente em sintonia com este espírito e o seu movimento abrangente, em direção a mais consciente em sintonia com o seu movimento. Portanto, para nós, existe um movimento de mais ou menos, que não é pensado por este espírito, porque para

ele não existe um mais ou um menos. Mesmo assim, este movimento em tudo que nele encontramos é pensado por este espírito, neste movimento. É pensado pelo espírito para nós, dessa maneira, não importando quais as experiências que nos impõe para um caminho direcionado a uma consciência maior.

Quem consegue adquirir esta consciência maior? Quem consegue obter essa sintonia maior com a consciência desse espírito? Isso pode ser feito individualmente? Podemos ser nós, unicamente nesta vida ou são todos os seres humanos - do passado, do presente e do futuro - que juntos neste caminho alcançarão essa consciência juntamente com todos os outros? Alcançarão essa consciência juntamente com todas as experiências já feitas e com aquelas que ainda devem ser feitas, tanto por nós como por muitos outros, tanto nesta vida como em várias outras? Aqui, também, somente juntos?

A liberdade

É claro que nos sentimos livres em vários sentidos. É claro que nos sentimos responsáveis pelos nossos atos e suas consequências. Contudo, ao mesmo tempo, sabemos que uma outra força, um poder espiritual que tudo movimenta, pensou, movimentou e quis a nossa liberdade e a nossa responsabilidade, assim como a nossa culpa com todas as suas consequências, de tal forma que as vivenciamos como se fossem nossas.

Agimos, então, de forma diferente? Podemos agir de forma diferente? De onde devemos tirar a força para nos movimentarmos e agirmos de forma diferente?

Então, o que nos resta fazer? Continuar agindo da mesma forma como até agora e concordar com a nossa liberdade, a nossa responsabilidade, o nosso passado e a nossa culpa com todas as suas consequências como são e como as experimentamos.

Ao mesmo tempo, no entanto, nós as experimentamos como um mais em termos de sintonia consciente com este espírito que tudo movimenta. Nós as experimentamos também como uma consciência maior tanto para nós como para todos os outros que carregam juntamente conosco, as consequências da nossa liberdade e da nossa responsabilidade e que foram envolvidos nas consequências dos nossos atos e da nossa culpa.

Todas essas pessoas, portanto, experimentam o mesmo processo de maneira diversa. Passam por uma experiência diferente através do mesmo processo. Se perceberem ambos ao mesmo tempo – ser livre e não ser livre alcançam um mais em consciência, talvez também um mais em sintonia com esse espírito que tudo movimenta. Alcançam um mais em consciência que os leva – assim como muitos outros – um pouco adiante em seu caminho, em direção à consciência ampla.

Nenhum comentário:

Postar um comentário