domingo, 28 de janeiro de 2018

Sobre as dimensões do tempo no trabalho das constelações familiares

Uma das perguntas recorrentes feitas nos grupos de constelação: 
Como é possível que situações que ocorreram em gerações anteriores (por vezes até desconhecidas da pessoa que constela) se mostrem presentes no campo da constelação manifestando nitidamente sua atuação e influência a vida atual do cliente? 
Sob a ótica científica, a epigenética traz explicações cada vez mais precisas a esse respeito. Por outro lado, tradições culturais ditas “primitivas”, lançam mão há séculos do recurso de atemporalidade na realização de seus trabalhos de cura.
Em que pese o fenômeno da atemporalidade se manifestar em diversas constelações e ser fascinante para quem assiste o trabalho, corre-se o risco de perdermos o sentido da constelação, ficando em um nível meramente especulativo e de curiosidade, se o fenômeno passar a ser considerado o próprio trabalho.  Ele não é. Consiste, sim, no meio através do qual chegamos a uma outra pergunta que nos conduz mais além: a serviço do quê ele existe? Por que ele se apresenta nos trabalhos de cura?
A seguir um trecho do livro de Daan van Kampenhout, La sanación viene desde afuera – Chamanismo y Constelaciones Familiares, onde o tema é tratado com maestria.  As observações entre parênteses são minhas.
[...]A experiência da atemporalidade é de suma importância na prática xamânica (e nas constelações). Quando a experiência do tempo linear é quebrada, o fluxo de histórias que normalmente contamos a nós mesmos é interrompido. Pensar em termos das histórias passadas, das que estão acontecendo agora ou que deveriam estar ocorrendo em seu lugar; ou ainda, acerca do que aconteceu ontem ou deveria acontecer no futuro, só é possível quando a consciência está firmemente ancorada no tempo linear. Na atemporalidade do ritual xamânico (e das constelações), essas histórias internas perdem sua sustentação imediatamente. Fragmentam-se e perdem sua coesão; podendo haver momentos nos quais ficam totalmente silenciadas. E quando o compulsivo monólogo interno se debilita, a consciência é liberada para uma nova experiência. Quando as histórias internas a respeito de nós mesmos e dos outros perdem o domínio sobre nossa atenção, o que sentimos é a experiência real de energia ligada a essas histórias, a energia que é a sua essência. Por exemplo, em vez de repetir a interminável queixa familiar de que nosso companheiro não fala que nos ama, de repente, podemos sentir outra verdade: o sofrimento silencioso que fechou seu coração há muito tempo atrás. Ou, em vez de dizermos repetitivamente que nossa mãe nunca nos olhou realmente e como isso nos mobiliza, agora sentimos o medo enorme de uma criaturinha que às vezes necessitava mais do que seus pais podiam lhe dar.  
Os padrões de pensamento habituais servem para manter a realidade fixa de uma forma que está a serviço das identificações da personalidade. Ancorada na atemporalidade, a consciência começa a ver outras camadas da verdade, a da verdadeira energia do corpo e as camadas mais profundas da psique. Experimentar a atemporalidade e, desse modo, abrir-nos para chegar a camadas mais essenciais de experiência, é um fator chave na cura, tanto para o xamã (constelador) quanto para seu cliente. [...]

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Palavras de um mestre

Os mestres: [...] Não canso de alertar meus alunos, tanto na Europa como nos Estados Unidos: "Não procurem o sucesso. Quanto mais o procurarem e o transformarem num alvo, mais vocês vão sofrer. Porque o sucesso, como a felicidade, não pode ser perseguido; ele deve acontecer, e só tem lugar como efeito colateral de um dedicação pessoal a uma causa maior que a pessoa, ou como subproduto da rendição pessoal a outro ser. A felicidade deve acontecer naturalmente, e o mesmo ocorre com o sucesso; vocês precisam deixá-lo acontecer não se preocupando com ele. Quero que vocês escutem o que sua consciência diz que devem fazer e coloquem-no em prática da melhor maneira possível. E então vocês verão que a longo prazo - estou dizendo: a longo prazo! - o sucesso vai persegui-los, precisamente porque vocês esqueceram de pensar nele."
Viktor Frankl - no prefácio da edição de 1984 do livro Em Busca de Sentido - Um Psicólogo no Campo de Concentração.