segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Ao Mestre, com carinho!

Se ainda estivesse nesse plano, dia 16 de dezembro, sábado passado, Bert Hellinger faria 98 anos.

Se você quer conhecer alguns fatos que marcam a história desse mestre, aí vão eles:

Nascido em 1925, no Sul da Alemanha, Hellinger estudou por seis anos em um seminário católico, até seu fechamento, durante o período nazista. Como retaliação a sua família, que não havia se filiado ao partido nacional-socialista, aos 17 anos Bert foi incorporado ao exército alemão e enviado para o front na Segunda Guerra Mundial. Prisioneiro por uma ano na Bélgica, conseguiu escapar e voltou à Alemanha, reingressando no seminário onde se formou sacerdote. Em seguida foi enviado como missionário para a África do Sul, convivendo por 16 anos com os Zulús.


Observando a profunda reverência daquele povo com seus antepassados, Hellinger despertou para a importância das relações humanas com a ancestralidade. Foi nesse período que conheceu as dinâmicas de grupo, aplicadas por missionários anglicanos. Quando retornou à Alemanha como diretor de um seminário, já estava profundamente interessado na psique humana e fez sua primeira formação terapêutica, em psicanálise. Mas, conforme contou no livro “Um lugar para os excluídos” (Ed. Atman), desde essa época, já sabia que não se enquadraria em uma linha terapêutica específica. Logo abandonou a vida sacerdotal, casou pela primeira vez e buscou outras formações. Entre elas: Terapia Primal, Análise Transacional, Gestalt, PNL, Terapia de Família.

As constelações, como as encontramos hoje, refletem o modelo aberto do trabalho de Hellinger: desde o estabelecimento dos princípios das “Ordens do Amor e da Ajuda”, no desdobramento nos “Movimentos da Alma” e, em seguida, nos “Movimentos do Espírito”.

Vale destacar que a abertura do trabalho não significa que as constelações sejam uma abordagem superficial ou uma pseudociência, como tantas vezes tem sido apregoado pela mídia. 

Os resultados dos trabalhos desenvolvidos por tantos profissionais com formações sólidas e eticamente responsáveis, deixa claro o fundamento de seu legado.

quarta-feira, 4 de novembro de 2020

Em tempos desafiadores, o melhor caminho é o autoconhecimento.

Quando o contexto é de tal intensidade que os esforços individuais pouco ou nada o afetam, o que se pode ainda fazer é aprofundar o autoconhecimento. 

Através dele é possível realizar transformações que permitem viver com mais paz, mesmo que a situação exterior não convide a isso. 

Neste sentido, Viktor Frankl é um mestre. Sua vida é o testemunho de que, mesmo nas condições mais adversas, há possibilidade de vida, aprendizado e amor. 

Leitura recomendada: Em Busca De Sentido: Um psicólogo no campo de concentração - Frankl, Viktor, Ed. Vozes, 1991







terça-feira, 27 de outubro de 2020

Conheça o kintsugi, a filosofia japonesa do conserto

Os contextos mudam, mas a lição do kintsugi continua valendo!


Por Marina Gold

Pandemia, só dá ela. Pandemia! Pandemia! Pandemia! Não se fala em outra coisa, Não se pensa em outra coisa. Por isso mesmo, em meio à loucura, nossa obrigação, num mundo insano, é ser cada vez mais sensato.

Nesses muitos (e longos!) dias de despedaçamento – isolados, frágeis, angustiados, na solidão e no medo –, quando a sensação geral é que tudo estilhaçou, nossa tarefa é o conserto: recompor, recolocar, reordenar, reformar.

O conserto que almejo é o do kintsugi, a “emenda dourada” do zen. Trata-se da milenar arte oriental de reparar uma peça de cerâmica quebrada com o emprego de um tipo especial de laca (misturada com pó de ouro, daí o nome: liga ou correção de ouro).

O kintsugi, caminho de bom gosto aberto na simplicidade, sutil e elegante, está comprometido com a base do pensamento zen, a aceitação do defeituoso e do imperfeito, do que revela a efemeridade e a fugacidade de tudo. O kintsugi ensina o domínio do espírito sobre a matéria, o primeiro como morada do eterno, a última (refúgio provisório do nosso corpo), como temporária.

Curiosamente nas tradições orientais das cerimônias do chá, os apetrechos de cerâmica consertados pela “emenda dourada” ganham nova grandeza, são mais queridos e reverenciados. Eles se tornam a ilustração palpável da necessidade de aceitação do defeituoso, do imperfeito, das inevitáveis marcas de desgaste (alterações, modificações) vindas do uso das coisas materiais, das correções como simples eventos sempre presentes na vida.

A xícara partida em dezenas de cacos pode ser refeita. Sua recomposição surge como uma alternativa à realidade do seu despedaçamento. Após trabalho de extrema paciência (a resina demora semanas, ou até meses, para endurecer), ela pode novamente ser empregada, está consertada.

É a mesma? Não. O acidente, e posterior kintsugi, refizeram seu valor. Agora ela está no compartimento mais nobre do armário das louças. Evoca a “não importância”, o não-apego, a aceitação do destino e suas mudanças. Simboliza a fluidez de tudo e da própria vida humana. 

Assim, como uma xícara emendada à ouro, tenho minhas esperanças que consertaremos os cacos espalhados pela pandemia. As arestas indicarão o desgaste que o tempo provoca. As falhas (são muitas peças para colar!) vão transformar muitas coisas que eram comuns em coisas únicas, insubstituíveis. Curadas as feridas, teremos orgulho das cicatrizes: serão kintsugi.

Texto original publicado em:: 

https://www.terra.com.br/vida-e-estilo/horoscopo/conheca-o-kintsugi-a-filosofia-japonesa-do-conserto,1082de55980123f546e1189526ded80btlt1h1cb.html


quinta-feira, 21 de maio de 2020

Vibrações da nova hora, por Almir Nahas

Seguimos por mais uns dias no trabalho online!
Ando refletindo um bocado e o amigo Almir Nahas, jornalista e terapeuta sistêmico, em um texto publicado em rede social na semana passada, escreveu de forma clara a respeito desse momento. Compartilho os pontos de vista dele, que seguem nesse texto. São muito alinhados com a forma que venho percebendo e sentindo as coisas nesses novos tempos. Grata por compartilhar, Almir!

Vibrações da nova hora
Almir Nahas*

A crise internacional de saúde pública caiu como um tijolo sobre boa parte do mundo, e está causando mudanças profundas no nosso modo de vida. O quanto essas mudanças têm caráter provisório ou permanente, quanto tempo ainda teremos que conviver voluntária ou forçosamente com restrições de mobilidade e contato presencial, de fato, não sabemos.

Pode-se fazer previsões, desenhar cenários, imaginar alternativas, mas saber mesmo, quem sabe? Só com o tempo poderemos avaliar quais as mudanças mais profundas que este momento irá trazer. Mais particularmente, o que será do Brasil e dos brasileiros? Ainda não sabemos como a vida vai continuar, as mudanças estão em curso. Isto vai passar, mas não vejo ser possível saber como e quando. Mas vai passar.

Porém, depois do primeiro ciclo lunar dentro do inusitado cenário, superado o choque inicial e suas multivariadas reações, já podemos obter as primeiras leituras do que está acontecendo, pelo menos até onde me é possível observar de minhas janelas voltadas para dentro e para fora de mim.

A mais óbvia constatação é o efeito potencializador do vírus: o que estava acontecendo lentamente se acelerou, o que estava latente ficou explícito. O tempo está passando mais ligeiro para pessoas mais frágeis, seja pela idade, pelo estado de saúde ou condição social. O medo cresceu em muitos corações e a fé na vida e no Senhor da Vida também está mais mobilizada do que antes, para aqueles que tem alguma fé.

Outra evidência gritante é a “realidade sistêmica”. Cada ser é uma célula dentro de um amplo contexto. O que afeta a um afeta a todos. Estamos pagando com vidas um movimento de conscientização que já se mostrava muito necessário: a humanidade é uma só, estamos no mesmo barco, ou na mesma nave, e não somos os únicos habitantes desta maltratada nave mãe.

Poucas semanas após a paradeira, a natureza ganhou um impulso magnifico em seu eterno processo de regeneração, deixando claro que, se o bicho homem aprender a andar com a pisada mais leve, o equilíbrio ainda pode ser possível. Mas fica a dúvida: quantas mortes ainda serão necessárias para que se faça a mudança sistêmica de mentalidade? Qual o preço que ainda pagaremos para entender que a preservação ambiental não é uma escolha, é questão de sobrevivência?

Os deprimidos estão trancados em casa, muitos até sem vontade de pedir ajuda. Há muita solidão nas multidões, e muitos espíritos solidários disponíveis.

A depressão na economia ainda não se pode calcular. Certamente tem alguém contando quantos empregos já morreram com a pandemia. Milhares de empresas que estavam mal das pernas já morreram, muitos empregos estão sumindo. Empresas que pareciam firmes estão com as pernas bambas, procurando a UTI e se deparando com a falta de respiradores.

Tem uma velha economia, baseada no lucro pelo lucro, nas metas estratosféricas perseguidas alucinadamente, na ganho de alguns obtido através da perda de outros. Uma mentalidade que já estava perdendo forças, demonstrava falta de ar, e que está aos poucos definhando, mas vai levar com ela muitos empregos formais, e ao mesmo tempo empurrar muitos para um cenário que não estava nos planos de milhões: o empreendedorismo forçado.

Empreender, porém, é próprio da natureza. A relação de trabalho baseada no emprego ganhou espaço com a revolução industrial. É recente. Ao longo da nossa história ancestral, porém, viver sempre foi empreender. 

Um dos efeitos pandêmicos desta nova hora é que muitos acomodados estão sendo empurrados para uma nova atitude, por falta de opções. É empreender ou morrer.

Claro, quem tem uma confortável poupança está um pouco menos aflito do que aquele que não tem, mas em compensação está menos acostumado com a escassez. O pobre arranca a vida com a mão desde sempre, é mais adaptável.

Pais estão estressados pela overdose de convivência doméstica. Estão inevitavelmente encarando o “distanciamento social íntimo”, uma epidemia silenciosa que está corroendo o tecido social faz tempo, e que agora está incomodando mais.

Famílias estão sendo forçados a cuidar das comorbidades emocionais pessoais e familiares, das quais estavam tentando se esconder com a vida corrida do coelho da Alice, pressionados pelo relógio. A família já estava doente? De que? Os filhos já gritavam pedindo e os pais não queriam ouvir? O que clamavam?

Do outro lado da moeda, as pessoas estão mais solidárias. Os generosos estão cheios de oportunidades para servir ao próximo com o melhor de si, e estão até ganhando algum espaço no noticiário, embora ainda seja um espaço marginal, para terminar o telejornal com um sorriso, depois de um desfile majoritariamente opressivo e insano de versões que insistem em chamar de “fatos”. Tem muita gente boa fazendo o que sempre fez: o bem.

Outro aspecto positivo: as histórias pessoais dos que morreram e dos heróis da frente de batalha estão ganhando evidência. Cada vida conta. Sempre contou, não é novidade, mas muitos estão mais atentos a isso do que antes.

Quantos motoqueiros morrem todos os anos no alucinado trânsito de nossas cidades? Quantas crianças e adultos morrem na pulverizada guerra do narcotráfico? Quantas pessoas morrem a cada ano por não encontrar um leito de hospital e um atendimento digno, no falido sistema de saúde do país? Qual a novidade? A escalada das estatísticas, só.

Cada vida conta sim, mas havia uma dose de letargia e insensibilidade para outras pandemias. Parece que mais gente está sendo sensibilizada pela pandemia da vez, e isso pode significar um ganho colateral: a humanidade pode estar se humanizando mais.

A perspectiva da morte evidencia o valor da vida. A falta de abraços evidencia o valor do abraço. A perspectiva da fome evidencia o valor de uma refeição. Estamos em uma marcha acelerada em direção ao futuro, e as mudanças sendo germinadas em cada indivíduo.

Repensar, recriar, refazer, rever, renovar, palavras de ganham força para além das palestras motivacionais ou dos livros de auto-ajuda. O fato é que a raça humana está sendo posta a prova, e está sendo chamada a rever seus propósitos e buscar respostas que antes estavam sendo ignoradas, mas que hoje estão empurrando os insensíveis a acordar, nem que seja no susto.

Os mais serenos que eu avisto das minhas janelas são os mais centrados naquilo que é essencial: no amor, na fraternidade humana, na generosidade, na cooperação, na ética, na gratidão pela benção diária que é a vida.

O despojamento do que é supérfluo está ganhando força. A importância dos valores morais também. Parece mais forte o apelo para “descoizar” a vida e assim poder preservar o mais importante. Estamos pagando um preço ainda não estipulado por esta fase de profundos aprendizados. Aprender a ser gente é um trabalho constante.

Há um novo amanhã despontando, mas enquanto a noite da incerteza persistir, tem muita gente procurando os culpados e muitos também esperando ver a luz no fim do túnel.

E há aqueles que não esperam que alguém lhes traga o velho normal de volta, preferem seguir em frente ao encontro do novo dia, preferem acender uma vela e manter a sintonia com o que está acontecendo aqui e agora, que é o único lugar e o único tempo realmente nossos.

*Almir Nahas é jornalista, terapeuta sistêmico, consultor e empreendedor.